Conflito em frente à Fametro levanta debate sobre racismo, reação popular e segurança nas instituições de ensino
Universitária agredida após denúncia de racismo: Na noite da última sexta-feira (6), uma cena de violência registrada na frente do Centro Universitário Fametro, localizado na Avenida Constantino Nery, em Manaus, provocou grande repercussão social e política. A situação teve início após um jovem funcionário da instituição relatar à família ter sido vítima de ofensas racistas por parte de uma aluna do campus.
Segundo ele, a estudante teria proferido insultos como “preto” e “macaco” durante uma discussão nas dependências da faculdade. Diante da denúncia, a mãe e uma outra mulher, identificada como parente do jovem, aguardaram a universitária na saída da instituição e iniciaram uma agressão física.
Agressão foi registrada em vídeo
Imagens circularam nas redes
Vídeos do momento em que a mãe e sua acompanhante atacam a estudante com tapas, puxões de cabelo e golpes com capacete circularam rapidamente nas redes sociais e viralizaram entre os moradores da capital. As imagens mostram a tentativa de outros estudantes e seguranças da faculdade em conter o ataque.
A universitária foi identificada como Bianca e afirmou ter procurado uma delegacia logo após a agressão. Ela registrou boletim de ocorrência por lesão corporal e realizou exame de corpo de delito.
Declarações conflitantes
Jovem relata injúria racial
Em publicação nas redes sociais, o jovem que seria a vítima das ofensas racistas afirmou ter sido humilhado e ressaltou que sua mãe agiu em sua defesa:
“Fui vítima de racismo em pleno século XXI. Minha mãe foi me proteger, defender a cria dela.”
O caso repercutiu em perfis de militância antirracista que passaram a compartilhar o conteúdo com críticas à impunidade em casos de discriminação.
Estudante nega as acusações
Bianca, a universitária agredida, nega ter proferido qualquer injúria racial. Em entrevista a veículos locais, ela declarou que foi ofendida inicialmente pelo funcionário da instituição, a quem chamou de “noiado” após ser chamada de “put*”. Ela alega que as acusações de racismo foram uma retaliação infundada:
“Ele inventou que eu o chamei de ‘macaco’. Isso é mentira. Já registrei boletim de ocorrência e estou tomando as providências legais.”
A estudante também afirmou que houve omissão por parte da equipe de segurança da faculdade e que deve processar os agressores por calúnia e agressão.
Posicionamento da instituição
A Fametro emitiu nota oficial no sábado (8), repudiando qualquer forma de discriminação ou violência e informando que está conduzindo uma apuração interna:
“Estamos ouvindo todas as partes envolvidas e tomaremos as medidas cabíveis para garantir a segurança e a integridade da comunidade acadêmica.”
Até o momento, a instituição não informou se os envolvidos serão suspensos, desligados ou advertidos oficialmente.
Investigação e repercussão jurídica
O caso está sendo investigado pela Polícia Civil do Amazonas, que deve ouvir as partes envolvidas nos próximos dias. Dependendo da conclusão da investigação, a estudante poderá responder por injúria racial — crime inafiançável e imprescritível no Brasil — enquanto as agressoras podem ser processadas por lesão corporal.
Organizações de defesa dos direitos humanos alertam para a necessidade de que ambos os lados sejam tratados com rigor legal, sem legitimar a violência física como resposta.
Impacto nas redes e na sociedade
A repercussão do caso nas redes sociais dividiu opiniões. Parte dos internautas manifestou apoio à mãe, tratando o ato como uma reação compreensível diante de um suposto crime racial. Outros criticaram duramente a violência, apontando que nenhuma agressão física pode ser justificada sem o devido processo legal.
Grupos ligados ao movimento negro no Amazonas manifestaram preocupação com a banalização de crimes de racismo e cobraram posicionamento firme das autoridades e das instituições de ensino superior da região.
Panorama legal e dados sobre racismo no Amazonas
De acordo com dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, o estado do Amazonas registrou aumento de 27% nas denúncias de racismo em ambientes universitários nos últimos dois anos. O IBGE aponta que mais de 65% da população do estado se autodeclara preta ou parda.
Esses dados reforçam a urgência de protocolos mais claros e eficazes para lidar com situações de discriminação racial no ambiente acadêmico, tanto na prevenção quanto na responsabilização.
Considerações Finais
O episódio envolvendo a agressão à estudante em frente à Fametro escancara um problema estrutural: a persistência do racismo e a falta de protocolos claros para sua apuração imediata. A reação impulsiva de uma mãe em defesa do filho revela não apenas dor e indignação, mas também a sensação de impunidade em casos de racismo no Brasil. Agora, caberá à Justiça esclarecer os fatos e responsabilizar, conforme a lei, todos os envolvidos.
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