Abordagens violentas de agentes municipais em São Paulo geram revolta e pedidos de investigação formal por abuso de autoridade
Cracolândia tem denúncias de agressão por GCM: A cidade de São Paulo amanheceu com uma nova polêmica envolvendo a Guarda Civil Metropolitana (GCM). Câmeras de segurança flagraram agentes agredindo usuários de drogas e comerciantes na região da Cracolândia no último domingo (11), horas antes da operação que resultou no esvaziamento da área central conhecida por concentrar grande número de dependentes químicos.
Os vídeos divulgados mostram cenas de violência explícita: usuários sendo derrubados com empurrões, golpes de cassetete e até uma comerciante sendo atingida por uma guarda após reclamar da ação.
População relata medo e desrespeito; Prefeitura diz que apura condutas
As imagens foram captadas por câmeras de segurança de estabelecimentos na Rua dos Gusmões e em trechos próximos à Praça Princesa Isabel. Em um dos vídeos, um guarda civil aparece golpeando um homem com um cassetete enquanto ele tenta se afastar. Em outro, uma mulher que discute com os agentes é empurrada contra a parede e agredida.
Segundo relatos colhidos por jornalistas no local, os episódios aconteceram entre a noite de sábado (10) e a manhã de domingo (11). No mesmo domingo à tarde, uma operação da Polícia Militar e da GCM dispersou centenas de pessoas que ainda estavam reunidas na Cracolândia, numa ação que vem sendo descrita como tentativa de “limpeza” da área para obras e reurbanização.
A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Segurança Urbana, afirmou que os casos estão sendo apurados pela Corregedoria da GCM, e que não tolera excessos por parte dos agentes. A pasta reforçou que os vídeos serão analisados e que, se confirmadas as irregularidades, os envolvidos poderão ser responsabilizados administrativa e criminalmente.
Violência institucional em áreas de vulnerabilidade é apontada como fator agravante
Organizações de direitos humanos, como a Conectas e o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), criticam a abordagem violenta como substituto de uma política pública estruturada de acolhimento e tratamento para dependentes químicos. Segundo os especialistas, a repressão desassistida contribui para o agravamento da vulnerabilidade e para o deslocamento contínuo dos usuários para outras regiões da cidade.
“A Cracolândia não é uma questão de segurança apenas. É social, de saúde pública, e de política urbana inclusiva. Resolver na base da porrada nunca será solução”, afirmou a advogada e pesquisadora Raquel Lima ao G1.
A Defensoria Pública do Estado de São Paulo também informou que vai requisitar acesso aos vídeos completos e cobrar providências imediatas, classificando as cenas como possíveis “práticas de abuso de autoridade com conotação de violência institucional”.
Redes sociais reagem e levantam debate sobre violência estatal
Nas redes sociais, o caso gerou forte repercussão. Hashtags como #ViolênciaNaCracolândia e #GCMAbusiva circularam ao lado de críticas à atuação da guarda. No entanto, alguns perfis apoiaram a ação, alegando que a região havia se tornado “incontrolável” e que medidas firmes seriam necessárias.
Apesar da polarização, crescem os pedidos por investigação isenta e punição em caso de abuso confirmado, além de reivindicações por políticas de combate à dependência química baseadas em saúde e assistência social, e não em repressão policial.
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