Diplomatas brasileiros pressionam Washington por revisão das medidas que afetam o aço e alumínio nacional
Brasil e EUA negociam tarifas: Na quinta-feira (10/04), Brasil e Estados Unidos realizaram em Washington a primeira reunião bilateral desde que o governo de Donald Trump anunciou um novo pacote de tarifas contra produtos brasileiros. O encontro reuniu diplomatas da embaixada brasileira, representantes do Departamento de Comércio dos EUA e técnicos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que participaram de forma remota.
A reunião marca o início de uma tentativa de reaproximação entre os dois países em meio a um clima de crescente tensão comercial. No fim de março, os EUA anunciaram a imposição de tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio brasileiro, sob a justificativa de proteger a indústria americana.
Brasil defende superávit americano e ameaça reagir
Segundo o governo brasileiro, os EUA têm saldo positivo no comércio com o Brasil e, portanto, não haveria razão para classificar o país como ameaça à segurança econômica americana. “O Brasil não representa risco algum para a economia americana. Estamos buscando manter o diálogo, mas não descartamos recorrer a mecanismos internacionais de contestação”, disse um representante do Itamaraty à CNN Brasil.
Nas redes sociais, internautas especulam que a medida de Trump teria motivações eleitorais, em uma tentativa de reforçar seu discurso nacionalista junto à base industrial nos estados do Cinturão da Ferrugem (Rust Belt), como Michigan e Ohio. “É puro populismo tarifário, típico de Trump em campanha”, comentou um usuário no X (antigo Twitter).
Cenário internacional pode influenciar rumo das negociações
A reunião em Washington, embora ainda sem avanços concretos, é vista como positiva por diplomatas dos dois lados. “É o primeiro passo para uma eventual reavaliação das tarifas, mas não há qualquer expectativa de mudanças imediatas”, afirmou uma fonte da delegação brasileira à agência AP News.
Enquanto isso, o Brasil reforça sua estratégia de diversificação comercial. O país concluiu acordos recentes com Singapura e o Mercosul, e aguarda a ratificação do acordo com a União Europeia, assinado em 2024. “Estamos menos dependentes de um único parceiro, o que nos dá margem de manobra”, destacou o MDIC em nota oficial.
Lula mantém tom diplomático, mas prepara resposta
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em entrevista que espera “bom senso” da Casa Branca. “Queremos negociar, mas se for necessário, vamos acionar os instrumentos da OMC para defender nossa indústria”, declarou.
Internamente, o governo estuda medidas de retaliação em setores que impactem politicamente os EUA, como o agronegócio e a indústria de tecnologia. Segundo fontes próximas ao Palácio do Planalto, há pressão de siderúrgicas brasileiras para uma reação imediata, diante da possível perda de mercado externo.
Próximos passos e o que pode mudar no comércio bilateral
As próximas semanas serão decisivas. Está prevista uma nova rodada técnica entre os dois países ainda em abril, mas especialistas alertam para a instabilidade das decisões da atual administração Trump. “Não é possível prever com certeza o rumo dessas tratativas. A imprevisibilidade política nos EUA é um fator de risco”, analisou o economista Maurício Santoro, da UERJ.
Apesar da tensão, o comércio entre os dois países segue intenso. Em 2024, o intercâmbio comercial Brasil-EUA movimentou mais de US$ 88 bilhões, com superávit de US$ 9 bilhões para os americanos, segundo dados do MDIC.
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