Contexto do Sistema de Proteção
História e Estrutura do Sistema
O sistema foi construído após a grande enchente de 1941 e inclui 68 quilômetros de diques, novas avenidas e estradas construídas sobre esses diques. Uma parte crucial dessa estrutura é o muro da Mauá, um paredão de concreto de seis metros de altura, três dos quais estão enterrados no solo. Este muro foi projetado para proteger a capital gaúcha de inundações, com portões que poderiam ser fechados em caso de alerta de inundação.
Falhas e Manutenção
Walter Collischonn, professor de engenharia ambiental e hídrica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), critica a falha do sistema. “O sistema falhou miseravelmente”, lamenta ele, destacando que as falhas ocorreram nos pontos de abertura do muro, onde a água passou por cima e as comportas não foram bem vedadas. Além disso, faltou energia elétrica para bombear a água de dentro para fora do sistema, evidenciando um descuido de décadas.
A Importância da Manutenção
A arquiteta Lígia Bergamaschi Botta, que participou do planejamento urbano na época da construção do sistema, também lamenta a falta de manutenção adequada. “As comportas já estavam bastante abauladas, faltavam parafusos, e um dos portões veio abaixo com a força da água”, diz Botta, sublinhando o descaso com a infraestrutura.
Consequências das Falhas
Apesar das falhas, Botta acredita que a ausência do muro da Mauá teria resultado em ainda mais perdas. Recentemente, houve uma campanha para a demolição do muro, alegando que ele atrapalha a vista do Guaíba. No entanto, Botta argumenta que a demolição teria anulado todo o sistema de proteção.
Reflexões e Lições
Collischonn ressalta que, ao contrário do vale do rio Taquari, onde o nível da água pode subir rapidamente, em Porto Alegre há tempo para se preparar. Ele defende o reforço das estruturas de proteção e uma melhor compreensão pública sobre o funcionamento do sistema. “As cheias vão aumentar no sul do Brasil”, alerta, citando projeções de mudanças climáticas.
A Necessidade de Gestão de Riscos
Pedro Chafre, pesquisador do laboratório de hidrologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), enfatiza que a engenharia, prevenção e educação são essenciais. Ele destaca a importância de reavaliar as estruturas existentes para garantir que estão dimensionadas adequadamente para enfrentar as mudanças climáticas e os novos regimes de cheia.
Planejamento Urbano e Responsabilidade
Botta destaca que o planejamento urbano precisa ser levado a sério, com leis sobre áreas não ocupáveis sendo respeitadas. Ela menciona o caso de Eldorado do Sul, uma área vulnerável a cheias que foi praticamente destruída após as chuvas recentes.
Collischonn conclui que a falha do sistema é um reflexo do descaso da geração atual com o legado das gerações passadas. “É um fracasso nosso como sociedade”, afirma.
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