Medida é justificada por questões culturais e sanitárias, mas gera forte reação de ativistas e internautas
Irã proíbe cães em locais públicos: O governo do Irã expandiu, nesta semana, a proibição de passeios com cães em vias públicas para pelo menos 20 cidades em diferentes províncias do país. Entre os municípios afetados estão Ilam, Hamadã, Isfahan, Yazd, Kerman, Boroujerd e Khalkhal. As autoridades alegam que a decisão visa preservar a ordem pública, a saúde e a moral social.
Embora não haja uma lei nacional que proíba explicitamente a posse de cães como animais de estimação, a repressão se baseia em interpretações do Código Penal Islâmico. Entre os artigos utilizados, estão o 638, que trata de atos contra a moral pública, o 688, que aborda ameaças à saúde coletiva, e o artigo 40 da Constituição, que permite restringir liberdades individuais se estas forem consideradas prejudiciais à coletividade.
Base religiosa e combate à “ocidentalização” motivam proibição
Na doutrina do islamismo xiita, predominante no Irã, os cães são considerados impuros em contextos religiosos. Apesar de permitidos em atividades como caça, guarda e pastoreio, o convívio doméstico com esses animais é visto por parte das autoridades religiosas como um reflexo da influência cultural ocidental.
Em posicionamentos anteriores, o líder supremo do Irã, Aiatolá Ali Khamenei, classificou a adoção de cães como um costume “ocidentalizado” e “degenerado”, que colocaria em risco os valores tradicionais do país. A posse de animais de estimação passou, nos últimos anos, a ser vista por setores do regime como uma afronta aos princípios culturais da república islâmica.
Medidas incluem multas, apreensões e sanções contra estabelecimentos
Promotores de diversas cidades informaram que os tutores flagrados com cães em locais públicos poderão sofrer sanções, que incluem advertências formais, multas, apreensão dos animais e até mesmo confisco de veículos utilizados para o transporte dos pets. Clínicas veterinárias e pet shops informais também começaram a ser alvo de fiscalização intensiva.
Apesar das proibições, moradores relatam que cães ainda são vistos nas ruas de Teerã e de outras grandes cidades, o que sugere que a aplicação da medida pode variar conforme a região e o grau de rigidez das autoridades locais.
Reações da população e repercussão nas redes sociais
A decisão gerou forte repercussão entre a população iraniana e internautas no exterior. Em redes sociais como X (antigo Twitter) e Instagram, surgiram críticas contundentes à medida, com relatos de tutores preocupados com o bem-estar de seus animais e denúncias de abusos durante a fiscalização.
Campanhas com hashtags como #LiberdadeAnimal e #MeuCãoMinhaVida passaram a circular com força, enquanto ativistas acusam o governo de impor mais uma forma de controle social. Por outro lado, alguns grupos conservadores apoiaram a medida, classificando os cães como “fonte de perturbação” em locais públicos e elogiando a retomada dos “valores tradicionais”.
Possíveis impactos e cenário futuro
Especialistas em direitos humanos alertam que a proibição pode representar mais um retrocesso na já delicada situação das liberdades civis no Irã. Organizações internacionais, como a Iran Human Rights, classificam a medida como uma violação de direitos básicos.
Analistas apontam que a repressão ao hábito de manter cães como animais de companhia pode ser uma tentativa do regime de reafirmar sua autoridade diante do crescimento de movimentos sociais, especialmente entre jovens urbanos e mulheres, que têm desafiado normas religiosas e culturais nos últimos anos.
Não está descartada a possibilidade de que a medida se estenda para outras cidades, caso as autoridades entendam que a política teve apoio popular ou resultados positivos na manutenção da ordem pública.
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