Movimentações Financeiras Suspeitas
Transferências e Empresas de Fachada
As autoridades identificaram que pelo menos duas das empresas que receberam dinheiro de Cleiton Souza foram abertas em nome de “laranjas”. Em um caso específico, a empresa estava registrada em nome de uma pessoa com deficiência mental grave, cuja família desconhecia a existência do negócio.
Uma dessas empresas, um frigorífico, está ligada ao ex-prefeito de Anamã, Raimundo Pinheiro da Silva, conhecido como Chicó. Este frigorífico recebeu sete transferências totalizando R$ 113,75 mil. Outro estabelecimento, uma empresa de transporte e navegação, recebeu R$ 22 mil em três transferências. A terceira empresa, supostamente de alvenaria, recebeu R$ 64,2 mil em nove transferências.
Caminho das Drogas e do Dinheiro
Cleiton Souza da Silva distribuía drogas como skunk e cocaína vindas do Amazonas para várias comunidades e municípios do Rio de Janeiro, além de bairros das zonas Sul e Oeste da capital. O dinheiro gerado pela venda desses entorpecentes era depositado em diversas contas para dificultar o rastreamento e enviado de volta para a origem do esquema, na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru.
Método de Operação
A prática de “mesclar” o dinheiro envolve transferências para várias empresas, formais ou não, para esconder a origem ilícita dos fundos. Segundo o delegado Jefferson Ferreira, da Delegacia de Combate ao Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro, essa era a estratégia usada pelos traficantes do Comando Vermelho do Amazonas.
“O caminho da droga vem da tríplice fronteira (Brasil-Colômbia-Peru), passando por Manaus, vindo pro Rio de Janeiro, e o dinheiro faz o caminho contrário”, explicou Ferreira.
Envolvimento de Políticos e Empresas
As investigações apontam que o frigorífico usado no esquema de lavagem pertence ao ex-prefeito de Anamã, Chicó, que teria sido beneficiário direto do esquema. Além disso, o chefe do Departamento de Combate ao Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro, Gustavo Ribeiro, afirmou que muitas pessoas em diferentes partes do país enviaram dinheiro para integrantes do tráfico no Amazonas, destacando a complexidade do esquema.
“Não é do dia para a noite que você consegue 40 laranjas para receber dinheiro em espécie na conta, mandar para outras 20 pessoas de confiança e mandar para outras 10 pessoas de confiança para mandar para o operador, Cleiton, que confia em um político local, que detém negócios de distribuição de pescado e que vai empregar a estrutura que ele tem para distribuir a droga e dissimular o dinheiro dessa droga”, afirmou Ribeiro.
Operações Policiais e Desdobramentos
Na semana passada, a Polícia Civil realizou uma operação contra o braço financeiro da maior facção do tráfico de drogas no Estado do Rio de Janeiro. Durante a operação, foram realizadas buscas no frigorífico do ex-prefeito de Anamã e em outras empresas suspeitas.
O combate ao esquema de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas é uma prioridade para a Polícia Civil do Rio de Janeiro, que continua investigando para desmantelar completamente a rede de laranjas e empresas de fachada envolvidas neste esquema criminoso.