Riscos e Preocupações no Brasil
Escaneamento de Íris: Riscos e Preocupações com Privacidade: A coleta de dados biométricos, como o escaneamento de íris, tem sido alvo de debates no Brasil após a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) suspender o pagamento por esse procedimento. A prática, que oferece criptomoedas em troca da coleta de informações sensíveis, foi classificada como “particularmente grave” pela ANPD. Enquanto isso, pessoas que realizaram o processo, como a publicitária Mayara Rodrigues, expressam preocupação com o uso indevido de seus dados.
Como Funciona o Escaneamento de Íris?
A empresa responsável pelo serviço, Tools for Humanity, utiliza um aplicativo para coletar dados biométricos dos usuários. Em troca, os participantes recebem uma criptomoeda chamada “Worldcoin token”, que pode ser convertida em reais. Segundo a empresa, cerca de 500 mil pessoas já realizaram o procedimento apenas na cidade de São Paulo.
Mayara Rodrigues, de 28 anos, foi uma das participantes. Ela conta que soube da iniciativa por meio de um amigo. “Tinha algumas pessoas conhecidas dele fazendo um reconhecimento facial através da íris e ganhavam algum dinheiro em troca disso. Ele me indicou baixar o aplicativo para fazer também”, relatou. Apesar de ter pesquisado brevemente sobre o assunto, Mayara admitiu que não entende completamente como os dados serão utilizados.
A Experiência de Mayara Rodrigues
A publicitária realizou o escaneamento em novembro de 2024, em um posto da Tools for Humanity localizado no Shopping Boulevard Tatuapé, em São Paulo. “Resumindo, eles falam que aquela leitura é para mostrar que você é realmente um humano, e que o aplicativo te gera a recompensa por você ter ido fazer esse reconhecimento”, explicou.
Mayara recebeu 50 “Worldcoin tokens” como recompensa, com a possibilidade de sacar o valor mensalmente durante um ano. Até o momento, ela já realizou dois saques, totalizando R$ 400. No entanto, a cotação da criptomoeda é volátil, o que torna o valor final incerto.
Preocupações com a Privacidade dos Dados
Após publicar um vídeo sobre sua experiência nas redes sociais, que rapidamente atingiu 1,2 milhão de visualizações, Mayara começou a receber alertas sobre os riscos envolvidos. “Hoje minha sensação sobre isso é de muita preocupação. Me sinto lesada e, pior, com dados extremamente sigilosos e pessoais que podem estar em risco”, desabafou.
Ela agora busca formas de excluir seus dados da plataforma. “Estou tentando achar um caminho para que meus dados sejam excluídos do aplicativo”, afirmou. No entanto, a ANPD já alertou que, uma vez coletados, os dados biométricos não podem ser excluídos, e o consentimento dado pelos usuários não pode ser revogado.
ANPD Toma Medidas Contra a Coleta de Íris
A ANPD decidiu suspender o pagamento pela coleta de íris no Brasil, classificando o tratamento de dados pela Tools for Humanity como “particularmente grave”. A autoridade destacou que a empresa não oferece meios para excluir as informações coletadas ou reverter o consentimento dos usuários.
Em nota, a Tools for Humanity afirmou que mantém contato com a ANPD desde o início das operações no país, em novembro de 2024. A empresa também garantiu que segue todas as regulamentações locais.
Especialistas Alertam para Riscos
Karen Borges, gerente adjunta da Assessoria Jurídica do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), destacou os perigos associados à coleta de dados biométricos. “Não sabemos ainda como essas informações serão utilizadas quando associadas a algoritmos avançados e inteligência artificial (IA). Isso pode abrir portas para abusos, crimes e irregularidades”, alertou.
Ela também criticou a prática de oferecer dinheiro em troca de dados pessoais, classificando-a como “duvidosa” e potencialmente exploratória. “É fundamental que as autoridades investiguem esse tipo de iniciativa, garantindo que o direito à privacidade e proteção dos dados dos titulares sejam respeitados”, ressaltou.
Conclusão: Privacidade em Foco
O caso do escaneamento de íris em troca de criptomoedas levanta questões importantes sobre privacidade e proteção de dados no Brasil. Enquanto a ANPD investiga a legalidade do procedimento, milhares de pessoas, como Mayara Rodrigues, enfrentam incertezas sobre o destino de suas informações pessoais. A situação reforça a necessidade de maior transparência e regulamentação no uso de tecnologias que envolvem dados sensíveis, garantindo que os direitos dos cidadãos sejam preservados.