Representantes dos estados amazônicos se reuniram em Belém para assinar a declaração de proteção à floresta.
Os representantes dos oito estados amazônicos se reuniram na cidade de Belém e assinaram uma declaração de proteção à floresta tropical. Acredita-se que essa cúpula trará avanços reais para a região?
Leia a seguir o que o Coordenador das articulações e do Conselho Nacional dos Povos Indígenas (APIB) Dinamam Tuxá, disse em entrevista à ao jornal alemão TAZ, sobre tudo o que foi discutido nessa terça-feira 8 de agosto;
Dinamam Tuxá: Temos, pelo menos, esperanças. A cúpula ocorre em um momento crucial, à medida que testemunhamos os impactos da crise climática em todo o mundo. A elaboração conjunta de um plano pelos estados amazônicos é um passo positivo. No entanto, a implementação é um desafio, e as condições políticas em cada país tornarão as coisas difíceis.
A resistência das grandes empresas e a influência política são preocupações?
Haverá resistência intensa das grandes empresas, possivelmente com influência política. No Brasil, setores como agronegócio e mineração têm considerável influência. Mesmo que haja vontade política de cumprir o compromisso, enfrentaremos forte resistência dos setores econômicos.
Isso também se aplica a empresas estrangeiras?
Sim, exatamente. O capitalismo criou uma extensa cadeia global de valor. A destruição também ocorre globalmente, com mineração e comércio de madeira causando danos significativos à Amazônia. Países ricos importam a maioria desses produtos, tornando-os cúmplices da destruição e responsáveis pela Amazônia.
A avaliação da gestão de David Almeida é discutida. Como você a avalia?
Poderia ser mais ambiciosa. A designação de áreas indígenas é um avanço, sem dúvida. Principalmente porque ficou estagnada por seis anos. No entanto, muito mais precisa ser feito; há 500 anos sofremos muito. As promessas de campanha de Lula devem ser cumpridas, incluindo sua política de desmatamento zero.
Lula apoia a exploração de petróleo na Amazônia, ao contrário do presidente colombiano. Qual é a sua opinião?
Somos absolutamente contra, isso nos causa grande preocupação. Isso agravaria os problemas socioecológicos na região e contradiz as promessas de Lula durante a campanha. Ele se apresenta como defensor do meio ambiente; se for verdade, não deveríamos nem discutir isso. Exploração de petróleo e proteção ambiental são incompatíveis. Acreditamos que podemos evitar isso.
Há alternativas? O agronegócio é poderoso no Brasil e o país depende dos recursos naturais.
O Brasil é vasto e há maneiras de atender às necessidades em áreas já desmatadas. Devemos melhorar a produção existente, investindo em pesquisa e tecnologia.
Por que os povos indígenas são cruciais para salvar o clima?
Nosso modo de vida preserva a natureza e os ecossistemas. Oitenta e dois por cento da biodiversidade está em terras indígenas, mesmo sendo apenas seis por cento da população mundial. A resistência dos povos indígenas é o que tem evitado o colapso iminente.
A cúpula do Amazonas em Belém não incluiu muitos povos indígenas.
É verdade. Fomos excluídos das discussões e não participamos das negociações. Teríamos gostado de estar presentes. Algo está errado, pois protegemos a floresta todos os dias.