Proposta de Moscou inclui reconhecimento da anexação de regiões ocupadas, neutralidade da Ucrânia e fim do apoio militar ocidental
Rússia quer 20% da Ucrânia em troca de cessar-fogo: Durante a nova rodada de negociações de paz realizada em Istambul nesta segunda-feira (2), a Rússia apresentou à Ucrânia um memorando oficial com exigências rigorosas para interromper temporariamente as hostilidades. A principal condição imposta por Moscou é o reconhecimento de 20% do território ucraniano como parte da Federação Russa, incluindo as regiões de Crimeia, Donetsk, Lugansk, Zaporizhzhia e Kherson, já ocupadas por forças russas.
A proposta foi entregue diretamente à delegação ucraniana e discutida em ambiente fechado, sob mediação da Turquia. O conteúdo, confirmado por fontes diplomáticas ao Financial Times e à Reuters, delineia um plano que vai além da cessação do fogo: exige alterações estruturais no status militar, político e constitucional da Ucrânia.
O que a Rússia quer em troca da trégua
Além do controle territorial, o memorando russo lista nove condições para iniciar um cessar-fogo de curto prazo, com possibilidade de prorrogação:
1. Reconhecimento formal da anexação das cinco regiões atualmente sob domínio russo;
2. Retirada completa das tropas ucranianas dessas áreas;
3. Neutralidade militar da Ucrânia, com veto à adesão à OTAN;
4. Redução das Forças Armadas ucranianas e de seus arsenais;
5. Compromisso formal de não desenvolver nem hospedar armas nucleares;
6. Interrupção de qualquer envio de armamentos ou apoio logístico por parte do Ocidente;
7. Realização de eleições nacionais com observadores internacionais;
8. Reconhecimento da língua russa como oficial em todo o território ucraniano;
9. Garantia de atuação livre da Igreja Ortodoxa Ucraniana associada ao Patriarcado de Moscou.
O texto sugere ainda um cessar-fogo inicial de dois a três dias, “por razões humanitárias”, para retirada de corpos de soldados e acesso a zonas de conflito, com expectativa de extensão caso haja avanço político.
Ucrânia rejeita concessões territoriais e pede reforço diplomático
Até o momento, o governo ucraniano não emitiu resposta oficial ao novo pacote de exigências. No entanto, em pronunciamentos anteriores, o presidente Volodymyr Zelensky afirmou que “a integridade territorial da Ucrânia não está em negociação” e que qualquer proposta que envolva cessão de terras “é inadmissível”.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, reiterou nesta terça (3) que Kiev espera “posições mais realistas” por parte da Rússia e defendeu maior envolvimento da União Europeia e dos Estados Unidos nas negociações.
Comunidade internacional monitora possível impasse
A proposta russa dividiu opiniões entre líderes internacionais. Enquanto a China e a Hungria pedem que Kiev considere parte das exigências para encerrar os ataques, países como França, Alemanha, Reino Unido e EUA consideram a proposta “uma tentativa disfarçada de consolidação da ocupação militar”.
O presidente norte-americano Donald Trump, por meio de sua equipe diplomática, afirmou que qualquer cessar-fogo precisa ser “justo, legítimo e não pode ser imposto sob coerção territorial”. Já a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que “a Ucrânia deve negociar com base no respeito às suas fronteiras reconhecidas internacionalmente”.
Reações nas redes e percepção pública
No X (antigo Twitter), o debate sobre a proposta russa dominou os assuntos políticos mais comentados do mundo. A hashtag #CessarFogoComRendiçãoNão foi impulsionada por apoiadores da Ucrânia, enquanto usuários russos exaltaram a “vitória diplomática” e pediram que o Ocidente “reconheça a nova realidade do território”.
Analistas em política externa alertam que a postura russa visa não apenas uma pausa no conflito, mas a legitimação de ganhos territoriais obtidos à força, algo que pode abrir precedentes perigosos em conflitos internacionais.
O que esperar dos próximos dias
A continuidade das conversas dependerá da resposta oficial ucraniana e da disposição das potências mediadoras em aceitar ou pressionar por modificações no plano russo. Até lá, o conflito segue ativo, com combates intensos no leste e sul da Ucrânia.
Especialistas indicam que o impasse pode evoluir para dois caminhos: uma trégua técnica limitada para atender questões humanitárias ou a escalada de um novo ciclo de violência, caso as exigências sejam recusadas por completo.
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