“Agora Tem Especialistas” promete mutirões e clínicas móveis com investimento de R$ 2 bilhões, mas especialistas apontam riscos operacionais e dependência da rede privada
Governo cria programa para reduzir filas do SUS: O programa “Agora Tem Especialistas”, anunciado pelo Governo Federal no final de maio, pretende reduzir a fila de espera no Sistema Único de Saúde (SUS) para procedimentos de média e alta complexidade, como consultas com especialistas, exames e cirurgias eletivas. A promessa do Ministério da Saúde é atender centenas de milhares de pessoas ainda em 2025, com prioridade para estados com maior carência assistencial.
Com investimento previsto de R$ 2 bilhões ao ano, a iniciativa reúne mutirões, carretas móveis, uso de telemedicina e parcerias com hospitais privados e filantrópicos. O objetivo é, segundo o governo, “resgatar a dignidade do atendimento especializado”, encurtando o tempo de espera de pacientes que, em muitos casos, aguardam há mais de um ano por procedimentos simples.
Os pontos positivos do “Agora Tem Especialistas”
Entre os principais pontos positivos destacados por analistas, médicos e gestores, estão:
1. Alívio imediato às filas
O programa pretende dar resposta rápida à demanda reprimida, utilizando estruturas temporárias e complementares para resolver parte do gargalo histórico do SUS.
2. Ampliação do acesso em áreas remotas
Com unidades móveis (carretas) equipadas, o governo pretende levar atendimento especializado a cidades do interior e regiões onde faltam profissionais e infraestrutura.
3. Otimização de recursos do setor privado
Ao utilizar clínicas e hospitais privados com capacidade ociosa, o programa pode acelerar os atendimentos sem sobrecarregar os hospitais públicos, especialmente os federais e universitários.
4. Integração com telemedicina
O uso da telemedicina para triagem e acompanhamento de pacientes poderá melhorar o aproveitamento da força de trabalho especializada e reduzir deslocamentos desnecessários.
As críticas e riscos levantados por especialistas
Apesar do alcance proposto, especialistas em saúde pública e entidades da área levantam questionamentos sobre a viabilidade estrutural do programa. Entre os principais pontos de atenção estão:
1. Solução emergencial, não estrutural
Críticos apontam que o programa trata sintomas, não causas. A fila do SUS é fruto de subfinanciamento crônico, gestão descentralizada e escassez de especialistas permanentes no sistema. Sem reforço na atenção básica e regulação eficiente, as filas tendem a se reconstruir.
2. Dependência do setor privado
A proposta de utilizar clínicas privadas — inclusive as endividadas com a União — como prestadoras do SUS gera receio quanto à fiscalização, qualidade dos serviços e continuidade, caso faltem recursos ou acordos sejam desfeitos.
3. Carência de mão de obra
Mesmo com mutirões, a escassez de especialistas em diversas regiões pode comprometer o alcance da meta. Em estados da Amazônia Legal, por exemplo, faltam médicos até para o atendimento básico.
4. Riscos de desperdício e falta de integração
Se os atendimentos não forem integrados ao prontuário eletrônico nacional ou aos sistemas locais, o risco é de repetição de exames, perda de informações e falhas no acompanhamento clínico dos pacientes.
O que dizem os especialistas
Em entrevista à Folha, a pesquisadora Ligia Bahia, da UFRJ, afirmou que “o investimento é importante, mas se não houver compromisso com reorganização estrutural, a fila vai voltar a crescer”. Já o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) elogiou a proposta, mas cobrou repasses regulares aos municípios para garantir a operacionalização.
A percepção pública e a repercussão nas redes
O anúncio do programa gerou ampla repercussão nas redes sociais. Termos como #ZeraFilaDoSUS e #AgoraTemEspecialistas apareceram entre os assuntos mais comentados, dividindo opiniões. Enquanto parte da população celebrou a medida como uma resposta concreta a um problema antigo, outros expressaram ceticismo diante da execução e promessas semelhantes de gestões passadas.
Alívio pontual ou legado duradouro?
O “Agora Tem Especialistas” representa uma tentativa ousada de dar vazão a um dos maiores desafios da saúde pública brasileira. Seu êxito dependerá não apenas da execução técnica e da velocidade dos mutirões, mas da capacidade do Estado em integrar ações pontuais a um planejamento estruturante de médio e longo prazo.
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