A medida pode ser um “tiro no pé” para o produtor nacional?
Impacto da isenção de tarifas no agro: O governo brasileiro anunciou, em 6 de março de 2025, a isenção das tarifas de importação para carne bovina, café, açúcar, milho e azeite. A decisão visa conter a inflação dos alimentos, que subiu 7,69% em 2024, pressionando o custo de vida da população. No entanto, essa política pode gerar impactos significativos para os produtores nacionais, uma vez que os concorrentes externos possuem custos menores e, em alguns casos, subsídios governamentais que dificultam a competição em pé de igualdade.
Impacto no produtor brasileiro
Concorrência desigual: custos de produção e subsídios externos
Os produtores brasileiros já enfrentam altos custos de produção devido a impostos, custos logísticos e a falta de incentivos fiscais. A entrada de produtos importados mais baratos pode obrigar o setor a reduzir suas margens de lucro ou até operar no prejuízo.
Carne bovina (Argentina vs. Brasil)
- Custo de produção na Argentina: US$ 1,68-2,00/kg, favorecido por menor carga tributária e custos logísticos reduzidos.
- Custo de produção no Brasil: US$ 2,10-2,40/kg, impactado por impostos, alto custo do diesel (R$ 5,50-6,00/L) e logística.
- Preço final sem tarifa: Com a isenção, a carne argentina pode ser vendida no Brasil por R$ 22-26/kg, enquanto a carne nacional custa entre R$ 35-40/kg.
Milho (EUA vs. Brasil)
- Custo de produção nos EUA: US$ 185-215/ton, com subsídios de US$ 42,4 bilhões em 2025 (USDA) e produtividade de 11 ton/ha.
- Custo de produção no Brasil: US$ 210-260/ton, afetado por fertilizantes importados (70% do total) e menor produtividade (5-6 ton/ha).
- Preço final sem tarifa: O milho americano pode ser vendido no Brasil por R$ 67-78/saca, enquanto o brasileiro custa entre R$ 80-90/saca.
Café (Colômbia vs. Brasil)
- Custo de produção na Colômbia: US$ 1,25-1,55/lb, com foco em arábica premium e menor tributação.
- Custo de produção no Brasil: US$ 1,15-1,45/lb, impactado por impostos internos.
- Preço final sem tarifa: O café colombiano pode chegar ao Brasil a R$ 30-35/kg, enquanto o nacional custa entre R$ 35-45/kg.
Açúcar (Índia vs. Brasil)
- Custo de produção na Índia: US$ 0,18-0,22/kg, com subsídios de US$ 1,5 bilhão/ano.
- Custo de produção no Brasil: US$ 0,26-0,31/kg, afetado por impostos e custos logísticos.
- Preço final sem tarifa: O açúcar indiano pode ser vendido no Brasil a R$ 2,20-2,75/kg, contra R$ 3,50-4,00/kg do nacional.
Azeite (Espanha vs. Brasil)
- Custo de produção na Espanha: US$ 2,85-3,40/L, com subsídios da União Europeia (PAC).
- Brasil: Produção insignificante, 99% do azeite consumido no país é importado.
Quanto o produtor brasileiro precisaria reduzir para competir?
A concorrência com produtos importados sem tarifas pode forçar uma redução drástica na margem de lucro dos produtores nacionais:
Produto | Margem Atual | Redução Necessária |
---|---|---|
Carne | 15-25% (US$ 0,31-0,60/kg) | 60-100% (0-10% de margem) |
Milho | 15-25% (US$ 31-65/ton) | 60-100% (0-10% de margem) |
Café | 15-25% (US$ 0,17-0,36/lb) | 40-60% (10-15% de margem) |
Açúcar | 20-30% (US$ 0,05-0,09/kg) | 70-100% (0-10% de margem) |
Riscos para o Brasil
Quebra da cadeia produtiva e desemprego
Produtores que não conseguem reduzir custos podem ser obrigados a fechar suas operações, afetando diretamente 4,46 milhões de estabelecimentos rurais (CNA, 2017). Além disso, margens mais baixas podem levar a demissões em massa no setor agropecuário.
Dependência externa e risco inflacionário
A curto prazo, a medida pode reduzir os preços para o consumidor, mas, no longo prazo, a destruição da produção nacional pode tornar o Brasil dependente de importações, vulnerável a crises globais. Um exemplo foi o milho em 2021: o país exportou 20,4 milhões de toneladas e depois precisou importar 3,2 milhões a preços elevados (Câmara dos Deputados, 2022).
Reações nas redes sociais
Nas redes sociais, produtores e associações do setor, como a CNA, criticam a medida, alertando para “concorrência desleal” e “risco de falências”. Economistas avaliam que a inflação pode cair no curto prazo, mas alertam para o risco de “dependência externa” no futuro.
O que poderia ser feito?
Especialistas sugerem que o governo implemente contrapartidas para mitigar os impactos negativos da medida:
- Redução de impostos internos: Diminuir ICMS e tributos sobre combustíveis para equilibrar os custos.
- Subsídios e incentivos: Implementar políticas de apoio aos produtores, como subsídios na linha dos oferecidos por EUA e Índia.
- Controle de importações: Estabelecer cotas para limitar o volume de produtos importados e proteger o mercado interno.
Considerações finais
A isenção de tarifas de importação pode aliviar momentaneamente os preços para o consumidor, mas sem políticas complementares, pode prejudicar o agronegócio brasileiro. O setor cobra do governo medidas que garantam a competitividade dos produtores nacionais e evitem um cenário de colapso no médio e longo prazo.
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