Especialistas Avaliam Impacto do Gelo no Acidente com Avião Turboélice da Voepass
Avaliação das Condições de Voo
Relatos iniciais, incluindo mensagens de áudio compartilhadas por pilotos nas redes sociais, sugerem que havia condições meteorológicas severas na rota do voo, propícias à formação de gelo. Um comandante que voou na região confirmou em entrevista ao jornalista Rodrigo Bocardi que o voo enfrentava condições severas de gelo e vento.
Entretanto, essas condições não necessariamente impedem a operação de aeronaves como o ATR-72-500, que está equipado com sistemas para evitar o acúmulo de gelo nas asas. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) informou que não houve qualquer comunicado de emergência por parte dos pilotos antes do acidente.
Riscos Associados ao Gelo nas Asas
O especialista em segurança aérea e mecânico de aviação Lito Souza explicou em entrevista à GloboNews que, caso houvesse uma falha no sistema de degelo, o acúmulo de gelo nas asas poderia comprometer a sustentação da aeronave. “O ar começa a turbilhonar e o coeficiente de sustentação da asa diminui. Esse é o perigo”, afirmou Souza. Ele também destacou que as caixas-pretas da aeronave, que registram tanto a voz quanto os dados do voo, fornecerão informações cruciais sobre as condições externas, incluindo a temperatura do ar, ajudando a determinar se o gelo foi um fator no acidente.
Impacto do Gelo na Aerodinâmica
O engenheiro aeronáutico e professor de transporte aéreo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Geraldo Portela, ressaltou que, embora a formação de gelo nas asas possa afetar as características aerodinâmicas da aeronave, ainda é cedo para identificar com precisão a causa do acidente. “A asa tem um perfil aerodinâmico e o acúmulo de gelo no ponto de ataque pode fazer com que o avião perca suas características aerodinâmicas e se torne mais difícil de voar”, explicou Portela.
Ele também alertou que, em velocidades mais baixas, o acúmulo de gelo pode levar a uma perda de sustentação, resultando em uma queda. No entanto, Portela enfatizou que é arriscado antecipar conclusões, considerando que outras possibilidades, como defeitos mecânicos, também devem ser consideradas.
Possível Estol e Queda em Parafuso
O perito e especialista em acidentes aéreos Roberto Peterka sugeriu que o avião poderia ter entrado em estol, uma condição em que a aeronave perde totalmente a sustentação e entra em uma queda vertical, conhecida como “parafuso chato”. “Alguma coisa deve ter acontecido, e é provável que tenha sido a formação de gelo que acumulou nas asas, fazendo com que a aeronave perdesse o perfil aerodinâmico de sustentação e caísse”, explicou Peterka.
Ele acrescentou que a aeronave possuía todos os equipamentos necessários para lidar com essas condições, e que a investigação irá analisar todos os fatores, incluindo alertas de cabine, velocidade do avião, e as trocas de informações entre os pilotos, para determinar as causas exatas do acidente.
Considerações Finais
A investigação sobre o acidente aéreo em Vinhedo ainda está em seus estágios iniciais, e os especialistas continuam a avaliar várias hipóteses, incluindo a formação de gelo nas asas. As informações registradas nas caixas-pretas serão cruciais para esclarecer as causas da tragédia. Enquanto isso, a análise cuidadosa das condições de voo e dos possíveis fatores contribuintes é essencial para evitar futuras ocorrências semelhantes.
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